Crítica do espetáculo Os gigantes da montanha

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MUITA TÉCNICA E POUCA CENTELHA

            Por Marco Vasques e Rubens da Cunha

 

            O Floripa Teatro está de cara nova. Repensou alguns aspectos, sobretudo a curadoria, a aposta no debate e um enxugamento na programação. O resultado é um festival mais leve e com espetáculos que transitam entre o bom tecnicamente e o excelente na técnica e nas suas construções poéticas. Na noite de terça-feira vimos o Teatro Ademir da Rosa lotado como faz tempo não se vê em um festival feito na Capital. Era a noite do Grupo Galpão apresentar o a montagem Os gigantes da montanha, do italiano Luigi Pirandello, que como seu texto Seis Personagens à procura de um autor, tem como eixo o próprio teatro, o poder da crença na criação cênica e a mistura, inequívoca, do que é realmente ficcional e o que é real.

            O Grupo Galpão é um desses grupos de teatro que atingiu o perigoso status de grife. O nome Galpão, por si só, confere uma força e uma qualidade ao espetáculo. Por sorte, uma das principais companhias teatrais do Brasil tem consciência de seu nome, de seu status de grife e busca sempre corresponder à altura. Eles estão sempre aprofundando e experimentando sua linguagem. Com duas dezenas de peças no repertório, o Galpão já apresentou inúmeras montagens que são obras-primas do teatro nacional, bem como, conseguiu em muitas das encenações, aquele difícil ato de abrir uma trincheira, ou de abrir uma clareira na linguagem teatral, ou seja, de colocar um antes e um depois na história.

            É sob essa grife, sob o peso desse nome, que eles apresentaram o espetáculo Os gigantes da montanha, peça inacabada de Luigi Pirandello. Sob a direção de um velho parceiro do grupo, Gabriel Vilela, a peça é uma exuberância visual e musical. No entanto, apesar de todo o profissionalismo, de toda a técnica e arte do Grupo Galpão e dos doze atores que estavam em cena, Os gigantes da montanha é uma peça que não se faz teatro, não deixou que aquela alquimia estranha e necessária da teatralidade acontecesse. A quarta parede se fez presente e o espetáculo se arrastou numa falta de ritmo incomum para uma trupe que é especializada em reler clássicos e autores teatrais das mais variadas épocas.

            Claro que o público aplaudiu de pé, posto que o cenário, os figurinos, a iluminação e a sonoplastia do espetáculo são de uma beleza incomum e de apuramento estético irreparável. No entanto, um dos motivos pelos quais o espetáculo não acontece como poesia teatral é o fato de o grupo submeter o trabalho a um espaço inadequado à sua proposta. Trata-se de um espetáculo pensado para ser encenado em espaços abertos. É evidente que o cenário fica encaixotado no palco e que os atores perdem seu poder de movimentação, por isso as ações ficam comprometidas, o espetáculo perde o ritmo e se ergue somente nos momentos em que o grupo canta, nestes momentos  conseguimos quebrar a quarta parede entrar no espetáculo. Alguém do grupo, seja o diretor, sejam os atores ou o produtor, em algum momento, deveria se impor e não aceitar a sujeição de uma montagem dessa envergadura sem que as condições adequadas sejam cumpridas.

            O palco do Ademir Rosa, definitivamente, não deu condições ao grupo de ritmar o trabalho. Por isso, o que se viu foi um espetáculo potencialmente excelente e que foi pensado para outro espaço. Como o teatro é uma arte espacial por excelência, o resultado em se deslocar um trabalho pensado para um lugar para outro pode ser catastrófico. No entanto, o Galpão, com todas as limitações visíveis, conseguiu honrar sua história, porque tem um elenco que soube, com muito sofrimento, driblar com alguma competência o evidente desconforto da cena. Resultado: muita técnica e pouca centelha.

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